BLOG DO CORLEONE

Camisas da Polícia Penal

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Estudo sobre a vida do Agente


Anos roubados




Ninguém está mais próximo dos presos do que os agentes penitenciários. Eles servem de interlocutores entre a diretoria do presídio e os condenados e são os primeiros a sentirem a ira de detentos que convivem com celas lotadas, escuras e úmidas e com a falta de medicamento além de tantas outras precariedades características das cadeias brasileiras. 

Um trabalho desgastante que muitas vezes leva a afastamentos por inúmeros problemas de saúde. 

A rotina difícil já era conhecida, mas um estudo concluído recentemente mostra que ela custa muitos anos de vida a quem se dedica a essa profissão. A expectativa de vida entre os agentes penitenciários é de apenas 45 anos, inferior à média do Brasil de 1980, ano em que começou a ser feita a medição, quando era de 62 anos. Atualmente, a expectativa de vida dos brasileiros é de 73 anos. 

A pesquisa aponta que as más condições de trabalho estão relacionadas à incidência de doenças ligadas ao estresse, como falta de ar, taquicardia, diabete, hipertensão, obesidade e depressão. “As condições de trabalho dos agentes são precárias demais. No vestiário tem infiltração, iluminação falha, armários quebrados, o ambiente é frio, sujo, úmido e sem nenhuma privacidade. 

Às vezes apenas três funcionários ficam à mercê de mais de 500 presos na hora da contagem”, relata Arlindo Lourenço, psicólogo e autor da pesquisa. 

Lourenço, que trabalha há 19 anos no sistema penitenciário de São Paulo, baseou o estudo em atestados de óbito de agentes penitenciários emitidos entre os anos de 2000 e 2002. Na época, ele foi um dos responsáveis, na Escola de Administração Penitenciária, pela implementação da Política de Saúde dos Trabalhadores. 

“O agente convive diariamente com brigas, motins e mortes. Eles conversam com os presos, e alguns falam que quando saírem vão voltar para a vida do crime. Imagina um agente que tem uma filha e ouve um preso, que está ali por estupro, dizendo que quando sair vai continuar fazendo isso. É um clima 
tenso e negativo, que influencia a vida do funcionário”, explica Lourenço. 

O agente penitenciário Luiz da Silva Filho, conhecido como Danone, de 51 anos, é diretor de saúde do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo e afirma que apesar de uma lei zelar pela saúde mental dos agentes, praticamente nada é feito. “O governo não investe. Muita gente que foi refém de rebelião não tem apoio do Estado e acaba procurando o sindicato, mas também existe quem recorra ao boteco ou ao suicídio”, lamenta. 

Segundo Danone, o agente corre risco dentro e fora da cadeia. “O celular é uma arma muito perigosa. Um preso pode tirar uma foto nossa e mandar para fora em segundos. Ele pode mandar matar. É muita tensão”, afirma o agente, que diz que uma vez ficou por 4 dias como refém em um presídio no interior paulista. 

O funcionário, que trabalha atualmente no presídio de Presidente Venceslau, conta que somente no ano de 2005 viveu 38 rebeliões e sofreu um derrame. “Assisti a muitas mortes e rebeliões. Em uma delas, dois funcionários foram executados no cadeião de Pinheiros e os presos escreviam a sigla da facção com o sangue deles. É revoltante. São cenas que marcam, e aquele agente que diz que não tem nenhuma sequela é mentiroso”, garante.
Muitos agentes penitenciários não se afastam mesmo estando muito debilitados, uma vez que a licença significa diminuição de salário. Um agente que, por motivos de segurança, se identificou pelo nome de Mariano (foto à dir.) conta que ficou afastado por 1 mês com um quadro de ansiedade e estresse. Segundo ele, o médico teria indicado mais tempo longe do trabalho, mas ele resolveu voltar antes. “Eles tiraram quase R$ 800 do meu salário, não podia continuar sem trabalhar. Quando você mais precisa do Estado ele tira parte do seu salário e vira as costas para você”, diz o agente de 31 anos. 

O estresse de Mariano tem a ver com a sensação de injustiça. O funcionário conta que, em 2004, denunciou algumas irregularidades no presídio em que trabalhava. Depois da denúncia, alguns presos foram transferidos, mas ele foi perseguido pela diretoria do presídio. “Entrei com processo de assédio moral contra o diretor.” 

A reportagem tentou contato diversas vezes com a Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo para comentar a situação dos agentes. Até o fechamento desta edição, porém, o órgão não havia se manifestado. 

Mas essa questão não é apenas um problema de São Paulo. No Paraná, por exemplo, além dos funcionários afastados com problemas de saúde, existe a preocupação com o crime organizado. “Em 2 anos perdemos oito colegas assassinados. Alguns crimes ainda não foram elucidados, mas todos seguem o mesmo padrão: execução fria na porta de casa”, conta Vilson Brasil, diretor financeiro do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná.

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